Rutemberg Crispim, da Agência Agazeta.net
Qui, 13 de Agosto de 2009 09:07*Advogada teve suas denúncias praticamente desqualificadas pelos membros da Comissão. O barulho tão esperado transformou-se em discursos de moralidade dirigidos a ela*
"Jamais ouvi tanta irresponsabilidade e leviandade como foi dito aqui
hoje. Não se pode agredir as pessoas apenas com insinuações, sem provas
concretas". O desabafo do deputado Donald Fernandes (PSDB), relator da
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que apura casos de abuso e
exploração sexual no Acre, foi feito durante o depoimento da advogada e
ativista dos direitos humanos, Joana D'Arc, realizado nesta
quarta-feira, 12, no auditório da Assembleia Legislativa (Aleac).
*Deputado Donald Fernandes (PSDB) ficou indignado com denúncias apresentadas por Joana D'Arc* /(Foto: Luciano Pontes)/
Durante o depoimento, que durou mais de quatro horas e vinha sendo
aguardado com muita expectativa, devido as declarações feitas por ela à
imprensa, Joana D'Arc apresentou os nomes de um juiz, um promotor, um
agiota e um empresário de Sena Madureira, que segundo a advogada,
tiveram envolvimento em casos de pedofilia.
Com o rosto pintado, segundo ela, para homenagear as mulheres indígenas,
também citou os nomes de empresários de Rio Branco, de um gestor que
administra um órgão ambiental do Acre, de dois pastores da Igreja
Assembleia de Deus, de um ejscritor , um oficial da Polícia Militar (PM)
e de um sindicalista, que também estariam envolvidos em crimes de
pedofilia. Sobre os dois jornalistas, citados durante entrevistas que
deu à imprensa, Joana D'Arc disse que passaria via e-mail para os
membros da CPI.
A advogada disse ainda ter novas provas contra o assessor especial dos
povos indígenas do Acre, Francisco Pianko, apresentando, inclusive os
nomes dos indígenas José Correia e Ivonilde Brandão, que, segundo ela,
teriam novos fatos para revelar à CPI.Na abertura do depoimento, Joana D'Arc passou cerca de 11 minutos explicando a legislação, citando apenas o caso Pianko, sem apresentar nenhuma novidade, apenas recordando como ficou sabendo do suposto envolvimento do assessor em casos de abuso sexual de menores.
Em seguida, ela respondeu aos questionamentos feitos pelos membros da CPI, que pediram que revelasse os casos que tinha conhecimento e os nomes das pessoas envolvidas.
Participaram do depoimento os deputados Edvaldo Magalhães (PC do B), Walter Prado (PSB), Luiz Calixto (PSL), Mazinho Serafim (PSDB), Idalina Onofre (PPS), Perpétua de Sá (PT), Chagas Romão (PMDB), além dos membros da CPI, deputado Luis Tchê (PMN), Moisés Diniz (PC do B), Donald Fernandes (PSDB), Antônia Sales (PMDB) e Ney Amorin (PT). Estavam presentes também representantes do Ministério Público, do Tribunal de Justiça e o presidente da Associação dos Magistrados do Acre, Giordano Dourado.
Sobre as acusações que fez juntamente com a líder indígena Letícia
Yawanawá, contra Francisco Pianko, Joana D'Arc indicou os nomes dos
índios José Correia e Ivonilde Brandão, que, segundo ela, teriam
novidade para apresentar à CPI. O primeiro seria, inclusive, pai de uma
menina que teria sido abusada por Pianko. Já a índia, de acordo com a
advogada, teria novas provas contra o assessor.
"A Ivonilde me procurou e disse que o Pianko reuniu seis lideranças
indígenas em seu gabinete e disse que só assumiria a filha do Sales e da
Kátia, mas com a filha do Zé Correia ele não tinha feito nada", revelou.
Mas Joana D'Arc não apresentou nenhuma prova concreta contra Francisco
Pianko e apenas afirmou que o depoimento dos indígenas seria importante
porque "algumas coisas eles não falam para os brancos e somente os
líderes podem revelar".
Joana D'Arc disse que só ficou sabendo dos fatos, porque percebeu uma
certa inquietação em Letícia Yawanawá e pediu que dissesse o que estava
acontecendo. "Foi quando ela me revelou esses casos. Os índios, há muito
tempo, estavam sem comunicação. Tinham até tentado uma reunião com
membros do Governo, mas não conseguiram", lembrou.
Logo que soube das denúncias, Joana D'Arc afirmou que ficou uma semana
em depressão. Ela revelou que os casos de abuso sexual, supostamente
praticados por Francisco Pianko, estavam prejudicando todas as aldeias,
pois os índios não sabiam a quem recorrer.
Depois, ela enviou um e-mail para as Mulheres do Partido dos
Trabalhadores (PT), informando sobre os casos. A advogada disse que
também apresentou denúncia ao Ministério da Justiça (MJ), onde foi
orientada a procurar o Ministério Público Estadual (MPE).
"A partir daí, consegui que a Letícia expressasse tudo que estava
acontecendo. Buscamos apoio do Ministério Público Federal e da Polícia
Federal. O pai de uma garota foi ouvido por um delegado. Existe um
processo e todas as denúncias estão sendo investigadas", informou.
Joana D'Arc também revelou os nomes de um juiz, de um promotor e de empresários de Sena Madureira que estariam envolvidos em casos de pedofilia. Segundo a advogada, existe um processo contra essas quatro pessoas, que está arquivado.
A vítima seria uma menor, porém a mãe da menina não apresentou denúncias e, por isso, o processo foi arquivado pelo Pleno do Tribunal de Justiça. Joana D'Arc diz que teve acesso ao processo, mas não quis nem mesmo saber o nome e a idade da garota.
"Vocês devem pedir informações ao Tribunal de Justiça. Não fui em busca da vítima e de sua família, porque isso não é meu dever. Mas existem muitas provas no processo que foi arquivado porque não houve denúncia por parte da mãe da menor", relatou.
Joana D'Arc afirmou que o recebeu um convite do deputado Mazinho Serafim (PSDB) para ir a Sena Madureira apurar casos de pedofilia. O deputado disse, porém, que apenas fez um comentário com a advogada e que ela estaria acusando pessoas injustamente.
"Tenho uma preocupação especial com o que está sendo dito nesta CPI. São pessoas que trabalham e tem uma vida, que estão sendo chamados de pedófilos e terão seus nomes sujos", disse ele.
O deputado Luiz Calixto (PSL) afirmou que o promotor de justiiça, citado no depoimento, mora atualmente em Tarauacá e é casado com a jovem, que segundo Joana D'Arc teria sido abusada sexualmente.
Rede de proteção à pedofilia
Durante seu depoimento, Joana D'Arc disse que existe uma rede de proteção à pedofilia no Acre. Ela apontou o caso de um Capitão da PM
, que foi escolhido, há alguns anos, para compor um grupo de combate à pedofilia, criado pela juíza Maria Tapajós.
"Toda corporação sabia das denúncias contra ele, mas mesmo assim, o comandante da época decidiu indicá-lo para compor o grupo. Lá ele tinha todas as informações e beneficiava os pedófilos", disse.
Para Joana D'Arc, o Capitão chegou a cometer vários crimes e alertava os pedófilos quando seus nomes eram citados em reuniões. "Por isso, muitos continuam impunes até hoje", completou.
Pastores da Assembleia de Deus
Citando nomes que foram revelados a ela em uma lan house, no Terminal Urbano, Joana D'Arc, disse que saber do envolvimento de dois pastores da Igreja Assembléia de Deus em casos de pedofilia.
O primeiro foi citado por pessoas que estavam em uma lan house no Terminal Urbano, que o acusaram de ter uma página no Orkut na qual agendaria programas com menores. O outro foi denunciado por uma mulher, que faz parte da mesma igreja. O encontro aconteceu também no Terminal.
Joana D'Arc porém, não apresentou nenhuma prova contra os dois pastores e nem mesmo soube precisar de onde eles são. "As informações que tenho são essas, agora vocês devem investigar", destacou.
Ameaças de morte
Logo no início de seu depoimento, Joana D'Arc disse que tinha sido ameaçada pela esposa de uma autoridade do Governo do Estado. A ameaça, segundo ela, foi feita via e-mail, enviado ao jornalista Francisco Costa e direcionado a advogada.
O e-mail foi impresso e o deputado Moisés Diniz fez a leitura do mesmo. Porém, o conteúdo do e-mail se referia a assunto que não diz respeito à pedofilia. Os membros da CPI da pedofilia não aceitaram a denúncia apresentada por Joana D'Arc, afirmando que a suposta ameaça não devia ser tratada durante o depoimento.
Denúncias sem provas
Um dos primeiros nomes a ser citado por Joana D'Arc foi de um gestor de um órgão público federal. Ele teria abusado sexualmente de uma índia que, na época era menor de idade e não sabia falar português. A prova do abuso seria um jovem índio de 17 anos, fruto do relacionamento.
Como principal prova, Joana d'Arc apontou a irmã da índia, que foi estava no auditório acompanhando o depoimento. Mas, ao ser interrogada sobre o suposto abuso da irmã, Ivonilde Brandão disse que era preciso uma investigação mais profunda
"Eu não sei nem quantos anos tem minha irmã. Sei que ela teve um relacionamento amoroso e que tem um filho fruto desse relacionamento. Mas acredito que é preciso fazer um investigação mais profunda", afirmou.
Outra denúncia apresentada pela advogada foi contra um escritor. Porém a única coisa que afirmou saber foi que uma criança de três anos de idade teria sido abusada sexualmente por um homem, que segundo ela é um escritor. A avó da criança teria, inclusive, gravado um vídeo das parte ínitmas da garota.
Joana D'Arc porém, não soube informar o nome da mãe da criança, que segundo ela, é usuária de drogas. Prometeu passar para os membros da CPI o endereço da vítima.
Logo após o depoimento de Joana D'Arc, o juiz Giordano Dourado, presidente da Associação dos Magistrados do Acre (Amac), disse que não existe nenhum processo arquivado que tenha como réu o juiz citado pela advogada. De acordo com o magistrado não existe nenhuma denúncia contra o juiz.
"Ela pode está equivocada, pois não existe nenhuma denúncia contra o juiz. Vamos reunir os magistrados e decidir o que vamos fazer", afirmou.